quinta-feira, 29 de julho de 2010

TUBUCCI

*Jorge de Alarcão 

A identificação de Abrantes com a povoação de Tubucci referida no Itinerário de Antonino não
pode ser sustentada, apesar da tradição literária nesse sentido.
 
Manuel António Morato, num manuscrito cuja redacção deve ter começado em 1860, escreveu
“Do tempo dos romanos, á excepção d’algumas medalhas, nenhumas antiguidades se descobrem
hoje em Abrantes. No tempo do Bispo D. Fr. João da Piedade, segundo consta de uns
apontamentos seus, coordenados pelo Padre Mestre Fr. Francisco de Oliveira quando foi Prior
do Convento de S. Domingos desta Villa, os quaes se conservão na biblioteca pública d’Évora
entre os papeis do Arcebispo D. Fr. Manoel do Cenaculo, já bastante deteriorados, existiam
as seguintes lapides.” (Transcrito de Silva, 1981)
Seguem-se algumas inscrições, numa das quais se leria op(p)idi Tubuc(ciensis) e noutra,medic(us)
Tubuc(ciensis).
J. Candeias Silva (1981) mostrou a falsidade destas inscrições e esclareceu as circunstâncias
históricas que poderão ter justificado a sua invenção.
Nunca em Abrantes se encontraram vestígios que permitam supor ter aí existido povoação
romana de alguma relevância. Não podemos esquecer-nos que Diogo Oleiro, que aí viveu e sempre
foi tão atento às antiguidades da terra, nunca registou vestígios que minimamente convençam do
passado romano da cidade. Nem J. M. Bairrão Oleiro. Nem, no nosso tempo, J. Candeias Silva ou
Filomena Gaspar.
Em Abrantes foram todavia encontradas uma estátua romana e uma ara a Júpiter Óptimo
Máximo.
A estátua (Souza, 1990, p. 53, n.º 147), feminina e acéfala, foi achada nos inícios do século XX
no interior da igreja de Santa Maria do Castelo, a um metro de profundidade, numas escavações
que então se fizeram. A ara (Silva e Encarnação, 2001) não tem proveniência absolutamente segura,
mas poderá ter sido recolhida na zona histórica da freguesia de S. Vicente da cidade de Abrantes.
Quer a estátua, quer a ara, podem ter sido trazidas de outro(s) lugar(es) para Abrantes na
época medieval ou em período mais recente. Não permitem, sequer, fundamentar com alguma
verosimilhança a hipótese de ter existido um santuário a Júpiter no morro do castelo de Abrantes.
Se uma estátua de Júpiter poderia conferir alguma plausibilidade à ideia de um santuário, não se
compagina com tal hipótese uma estátua feminina, aliás desprovida de quaisquer atributos que
nos permitam considerá-la como representação de divindade.
Se a possibilidade da presença romana em Abrantes não deve ser descartada (existem ainda
algumas raras moedas registadas por Oleiro, 1952, p. 9), não nos parece que futuros achados arqueológicos
possam vir a demonstrar que houve aglomerado urbano romano de algum realce na área
edificada da actual cidade.

ALARCÃO, J. de - in Notas de arqueologia, epigrafia e toponímia II ,revista Portuguesa de Arqueologia.volume 7.número 2.2004

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